7 de jun. de 2016

A importância dos Mitos na Psicologia e na Arteterapia


Por que a Psicologia muitas vezes utiliza os mitos? De que forma eles permanecem significativos para nós? Vocês já perceberam que ao ouvir um mito, alguns conteúdos afetivos essenciais são despertados, eles "mexem" com algo dentro de nós, como se nos reconhecéssemos naquela narrativa, no conflito daquele herói, nos desafios e conquistas da jornada.

Estudamos os mitos porque justamente eles nos dão pistas sobre a nossa psique, eles nos revelam. Eliade define: "O mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada através de perspectivas múltiplas e complementares. O mito conta com uma história sagrada (...). É esta irrupção do sagrado que realmente fundamenta o Mundo e o converte no que é hoje (...). O mito é considerado uma história verdadeira, porque sempre se refere a realidades. A principal função do mito consiste em revelar os modelos exemplares de todos os ritos e atividades humanas significativas. Compreender as condutas míticas equivale a reconhecê-las como fenômenos humanos, fenômenos de cultura, criação do espírito."

Para Jung, a sobrevivência dos mitos ao longo do tempo, sua vivacidade tão colada na experiência humana tem uma explicação: "É inevitável que os produtos do inconsciente coletivo, isto é, os quadros que de forma inequívoca acusam caráter mitológico, sejam alinhados dentro de seu contexto histórico-simbólico, pois constituem uma linguagem inata da psique e da sua estrutura, e de forma alguma são aquisições individuais no que se refere à sua forma básica". Aqui, Jung nos conta sobre os arquétipos, que de forma muito ampla, são matrizes herdadas, que pertencem à toda humanidade, sem um conteúdo definido. O que definirá o conteúdo de cada arquétipo, para cada pessoa, serão suas experiências ao longo de sua história, na relação com o mundo, com o outro e consigo mesma.
Por esse motivo, o estudo do mito é tão importante para Psicologia, pois oferece uma compreensão da psique humana em sua totalidade conciente-inconsciente.

Vamos tomar como exemplo a Jornada do Herói. A estrutura dessa jornada nos aponta para muitas formas de compreender e elaborar a nossa própria jornada na vida. Empreendemos diversas vezes o ciclo da jornada do herói em nosso caminhar, e a cada vez que isso acontece, temos a oportunidade de ampliar a nosso autoconhecimento e autenticar nossos recursos internos no enfrentamento dos desafios diários.
Vejamos: o herói, filho de um Deus com um humano, é o guardião das transformações que ocorrem no contato com o desconhecido, com o perigo, o desafio. Diante disso, alguns padrões antigos e conhecidos se desmancham, dando lugar ao novo, a novas bases de segurança para a personalidade.
Quantas vezes nos percebemos enredados nessa estrutura? Algo que fazia sentido já não ocupa o mesmo lugar de importância, o que gera um desconforto que nos empurra para fora, para o perigo do desconhecido, em busca de algo que nos dê de volta a sensação de conforto, a sensação de que as coisas estão no lugar que deveriam estar. Nessa busca, enfrentamos inimigos (que às vezes podem ser nós mesmos), descobrimos nossos recursos (características que, até então, pensávamos não possuir) encontramos o nosso tesouro (poder pessoal, autoconfiança) e retornamos ao lar, mas agora, transformados pelas experiências vividas no caminho. Com certeza, muito mais preparados para as próximas aventuras que a vida nos oferecer.   

Por isso, a jornada do herói é arquetípica e nos fala de trasnformação. 

Quando aceitamos partir em função de um chamado, estamos nos colocando em uma posição de abertura para que a vida aconteça, pois vida é transformação, e a cada processo de transformação nos conectamos mais com a nossa essência, para aprendermos a ser quem realmente somos.  


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