22 de mar. de 2016

A Matéria Prima para a realização da Opus Magnum



Já vimos nos posts anteriores que o procedimento da Opus Magnum é recolher a matéria prima e submetê-la às etapas alquímicas, e forma que as transformações resultem na Pedra Filosofal. Traçando um paralelo com a psicoterapia, podemos dizer que o trabalho de análise visa o Self (equivalente à Pedra Filosofal) através do caminho de autoconhecimento. Jung dizia que mais importante que atingir o Self, é o caminho - a Opus.
Os alquimistas encontravam a matéria prima para as suas operações na natureza. Para Jung, nossa matéria prima é o inconsciente e tudo o que está nos fatos vividos no cotidiano - pequenos fatos que parecem não ter importância nenhuma se transforma em um espaço onde novas compreensões desabrocham. Por isso, devemos estar abertos ao encontro da matéria a ser transmutada todos os dias.
Muitas vezes os alquimistas encontravam a matéria prima no lixo, no esterco, naquilo que ninguém valorizava. Para nós, podemos dizer que a matéria prima se encontra, predominantemente, em nossa sombra. Por isso, nosso tesouro está no escuro, e precisamos enfrentar esse escuro para chegar ao que é mais valioso. Essa joia pode se chamar criatividade, e em um primeiro momento podemos senti-la de forma caótica. É aquele sentimento de angústia e desorientação, de quebrar os velhos padrões para que o novo surja... justamente dentro desse caos está a possibilidade da transmutação.
Também podemos encontrar a matéria prima nos sonhos, pois eles nos apontam caminhos e revelam muito do nosso ser, e em nosso corpo, como um lugar de transformações por natureza - tudo o que vivemos e sentimos passa, necessariamente, pelo nosso corpo.
O alquimista trabalha na matéria porque supõe que ela está viva e seu trabalho é resgatar seu espírito. Moramos em um corpo, mas muitas vezes não o habitamos. Só temos consciência do nosso copo quando adoecemos. Precisamos habitar nosso corpo, ele é fonte de sabedoria Somos unidade indissociável corpo/mente, mas o homem ocidental moderno está dissociado...
Para resgatar essa unidade vivenciada, precisamos realizar um trabalho de compreensão simbólica sobre como estamos vivendo, de que forma estamos nos relacionando com nosso corpo, com nossos sentimentos. Eu ouço o que diz meu corpo? Eu levo em consideração os meus sentimentos? Eu dou espaço para a intuição? Ou sigo um roteiro pré-definido e conhecido para atingir meus objetivos? Meus objetivos são meus, ou impostos por um roteiro social?
A compreensão simbólica envolve a compreensão objetiva (dada pela ciência, na forma de teorias) e a compreensão subjetiva (a riqueza do nosso mundo interno, que é sempre singular, único).
Para finalizar, deixo um exercício que facilita a realização do trabalho rumo a sua Pedra Filosofal, de forma integrada (unidade corpo/mente):
Olhe para algo que tenha acontecido, acolha esse fato e descreva-o, buscando o significado dele para você. Para isso, primeiro, entre em contato com seus sentimentos, com suas sensações. O que você sente em relação a tal fato? como seu corpo reage? Nomeie esse sentimentos. Em seguida, procure entendê-los em nível simbólico: o que isso significou? Em que lugar esse acontecimento entra na sua vida? O que tudo isso diz sobre você?
Experimente fazer esse exercício e sentir que sua consciência vai se expandindo na medida em que você acolhe de forma autêntica o que vivencia, e imprime nisso suas próprias digitais. Seu caminho é único!
Os alquimistas realizavam seu trabalho no vaso alquímico. E nós, onde podemos realizá-lo? Também temos nosso vaso alquímico? Quais são suas características? Essas serão as questões apresentadas no próximo post. Até lá!

Para quem não leu os primeiros posts, os links estão abaixo:


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